Metamorfose Ambulante

Hidrogênio Verde

“Novo combustível movimenta o mercado estrangeiro para suprir a demanda climática atual e o Brasil poderá se situar como protagonista nesta nova trajetória.”

A vida é uma “metamorfose ambulante”, como diria Raul Seixas. Desde as evoluções naturais darwinianas às históricas rupturas políticas ao longo dos séculos, a história da vida na terra é o reflexo da tendência constante de transformação na qual pessoas e seres vivos estão inevitavelmente sujeitos. Assim como nosso planeta, estamos incessantemente em movimento. 

À luz da concepção introduzida, vem à tona a próxima imprescindível – e necessária- evolução da matriz energética mundial: o hidrogênio verde. 

Os frutos desta produção possuem benefícios extraordinários a qualquer meio de transporte ou maquinário que roda, atualmente, à base de combustível fóssil. Grosso modo, o gás é obtido através da quebra da molécula da água por uma corrente elétrica, processo denominado de “eletrólise”. Caso essa corrente elétrica tenha origem renovável, obtém-se o hidrogênio verde. 

COMO ESTÁ ATUANDO O MERCADO GLOBAL

Chamado pela revista Forbes de “energia do futuro”, diversos países e empresas têm tomado iniciativas em projetos ambiciosos visando o futuro protagonismo no mercado. 

A Siemens Energy, em parceria com a Porsche, e várias empresas internacionais, irão aproveitar o potencial eólico de Magallanes, região sul do país, para produzir Hidrogênio Verde já no ano que vem, a fim de virarem grande exportadores de combustível sintético ao redor do globo. O produto poderá abastecer carros, caminhões, navios e aviões de grande porte, sem que precise adaptar as frotas para um novo modelo de combustível. A técnica utilizada baseia-se em combinar dióxido de carbono com o Hidrogênio, resultando em metanol sintético, sendo este a base para o e-diesel, e-gasolina ou e-querosene, configurando os chamados “combustíveis neutros”, em que a combustão emite 90% menos dióxido de carbono na atmosfera.

A Coreia do Sul, fazendo jus à sua fama de assertiva e intensa investidora em sua economia com verbas públicas, direcionou 130,4 bilhões de wons em incentivos para veículos à base de hidrogênio, segundo a Korea Herald. Indo além, a gigante nacional do meio automobilístico Hyundai, em parceria com o Grupo SK e outros, desembolsaram US $31 bilhões para alcançar uma economia de hidrogênio nos próximos dez anos. 

A União Europeia (EU) também já se planejou, almejando cumprir a meta de emissão neutra até 2050 e estabeleceu um plano de investimento de US $430 bilhões em hidrogênio verde até 2030. 

E COMO ESTÁ O BRASIL?

Temos a grande chance de nos tornarmos líderes na produção deste novo combustível graças à iniciativa de empresas como a australiana Enegix Energy, que investirá 29 bilhões de reais, na cotação atual, para construir a maior usina de hidrogênio verde do mundo no Brasil. Isso mesmo, o Ceará sediará o projeto Base One, com capacidade para produzir 600 mil toneladas de hidrogênio verde por ano a partir de 3,4 GW de potência firme. Em parceria com o governador do Ceará, a usina se encontrará numa zona industrial de 500 hectares que foi reservada no Porto de Pécem, com posição estratégica de acesso direto aos maiores portos internacionais. 

“O Base One transformará o Ceará em um importante exportador de hidrogênio e estabelecerá a Enegix como produtora global de energia renovável alinhada à nossa visão e estratégia para substituir redes de energia caras e de alta emissão por redes renováveis”, comenta Wesley Cooke, Fundador e CEO da Enegix Energy.

A região onde será instalada também é climaticamente estratégica, à medida que o Porto de Pecém detém vasto potencial solar e eólico offshore até onshore – instalado em alto-mar e na costa, respectivamente – praticamente o ano todo. As proporções continentais do Brasil são incríveis justamente por conter regiões propícias para obter intensa e constante luz solar, ainda mais no Nordeste, que se situa mais próximo da Linha do Equador, onde os raios solares atingem o solo mais próximo dos 90º graus por quase todo o ano, gerando grandes margens para aproveitamento do mercado de energia solar. 

Projetos como este geram grandes impactos positivos à nossa atmosfera. Nos dias atuais, as atividades humanas emitem nada menos do que 50 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Só o Base One será capaz de reduzir 10 milhões de toneladas de CO2 emitidos na atmosfera anualmente, assumindo o posto de maior projeto de redução de carbono do mundo. “Uma economia de hidrogênio é possível agora, devemos tomar a iniciativa e construí-la para que todos possam se beneficiar do elemento mais abundante do universo” defende Cooke. 

Por fim, é positivo ver empresas internacionais investindo em grandes projetos sustentáveis no país, como o Base One. Assim, da mesma maneira que o petróleo virou uma alternativa ao uso de gordura de baleia, chegou a vez do petróleo passar o bastão para o hidrogênio e se tornar uma engrenagem importante ao cenário climático pelas próximas décadas.

Como se produz Hidrogênio Verde e seus benefícios

Como já escrito em artigo anterior, o Hidrogênio Verde passa a ser alternativa viável ao uso de combustíveis fósseis ao mercado automobilístico e industrial. Pela urgente demanda climática atual, o novo combustível gera grande agitação aos olhos do mercado que cada vez mais realiza ações em prol de seu desenvolvimento. 

Mas, afinal de contas, como seu produz Hidrogênio Verde? E quais seus reais benefícios a ponto de encantar os líderes mundiais?

COMO SE PRODUZ

Fruto do processo denominado “eletrólise”, o gás Hidrogênio (H) é obtido através da decomposição química da água em: hidrogênio e oxigênio. Grosso modo, a reação química ocorre quando uma corrente elétrica atravessa a água, separando o gás desejado. Assim, caso a corrente elétrica utilizada no processo tenha origem renovável – eólica ou solar, por exemplo- produz-se o chamado “Hidrogênio Verde”. Vale ressaltar que todo o processo produtivo ocorre sem emissão de poluentes. Entretanto, é necessária uma grande quantidade de energia. 

BENEFÍCIOS

O combustível se apresenta como uma alternativa salvadora, à luz de que 25% das emissões de gases do efeito estufa vem do setor dos transportes, segundo o relatório apresentado na COP-24, na Polônia. “Uma redução substancial nas emissões de CO2 é quase impossível sem hidrogênio”, defende incisivamente Christian Bauer, do Instituto Paul Scherrer, centro suíço de pesquisa em engenharia, “Eu diria que, dentro dos próximos dez anos, veremos avanços importantes no setor”, continua. 

Os frutos desta produção possuem benefícios extraordinários a qualquer meio de transporte ou maquinário que roda, atualmente, à base de combustível fóssil. 

Os motores podem ser movidos à hidrogênio em si. Para gerar energia, o veículo é equipado com uma célula de combustível. Nesta célula ocorre o processo inverso ao da eletrólise, havendo a reação do Hidrogênio com o Oxigênio, gerando água e calor, capaz de impulsionar o motor ao converter energia química em mecânica. Ora, o que, afinal de contas, é emitido após essa combustão? Isso mesmo, caro leitor: água. Logo, os veículos movidos por hidrogênio emitem vapor d’água, como grandes umidificadores ambulantes. “Queridinho” dos fabricantes, o motor é, tecnicamente, chamado de “FCEV” (veículo elétrico a célula a combustível), e já encontra exemplares no mercado mundial como: frotas de empilhadeiras nos Estados Unidos e na União Europeia, assim como foguetes espaciais. 

As vantagens continuam, tendo em vista que o hidrogênio tem três vezes mais energia do que a gasolina e, pelas palavras do pesquisador Mr. Ian Stalffe et all, do Imperial College London e da Royal Society of Chemistry:

“Uma das qualidades do hidrogênio é a sua densidade energética específica muito alta, 40.000 wh / kg, ou 236 vezes a energia específica das baterias de íons de lítio. Isso significa que os veículos movidos a hidrogênio são mais leves que os movidos a bateria e têm um alcance mais extenso. Além disso, o reabastecimento de hidrogênio leva apenas alguns minutos em comparação com várias horas para carros movidos a bateria.”

Outra possível utilização é a produção de combustível sintético. Esta técnica baseia-se em combinar dióxido de carbono com o Hidrogênio Verde, resultando em metanol sintético, sendo este a base para o e-diesel, e-gasolina ou e-queresene, configurando os chamados “combustíveis neutros”, em que a combustão emite 90% menos dióxido de carbono na atmosfera. Tecnologia, esta, que será utilizada em grande escala por um ambicioso projeto no sul do Chile, que visa produzir 550 milhões toneladas deste e-combustível até 2026. A Siemens Energy, em parceria com a Porsche e várias empresas internacionais, irão aproveitar o potencial eólico de Magallanes, região sul do país, para produzirem hidrogênio verde já no ano que vem, a fim de virarem grande exportadores de combustível sintético ao redor do globo. 

As concentrações de CO2 na terra são preocupantes. No mês de maio de 2019, o observatório de Mauna Loa, uma das mais renomadas estações de monitoramento do aquecimento global, no Havaí, registrou uma concentração de 415 parte por milhão (ppm), marca inédita na vivência humana na terra. “Isso é significativo porque a última vez que a Terra teve concentrações atmosféricas de CO2 nesse nível foi provavelmente há 2,6 milhões ou até 3 milhões de anos. Ou seja, antes da evolução da espécie humana”, alega James Dyke, professor de Sistemas Globais do Departamento de Geografia da Universidade de Exeter, no Reino Unido. 

Em suma, a evolução humana na terra está estritamente ligada ao progresso das nossas tecnologias. E, cada década que passa, descobrimos novas e melhores maneiras de produzir, pensar e redirecionar a vida neste planeta através das excelentes cabeças pensantes. 

Neste cenário, é fundamental a ativa atuação dos centros acadêmicos na produção de conhecimento. Brasil vive atualmente uma intensa fuga de cérebros de cientistas renomados, que fogem da falta de investimento e de constantes ataques às áreas pelo governo federal. À título de compreensão, o Ministério de Tecnologia e Inovações (MCTI) teve uma perda de 52% em seu orçamento entre 2013 e 2020, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).” 

Logo, iniciativas como as da Engix Energy, e de tantas outras, refletem a nova guinada universal rumo ao aprimoramento da relação homem-natureza. 

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We can work it out

Viabilidade de novos empreendimentos eólicos

Durante o Fórum Nacional Eólico 2021, evento idealizado pela VIEX e pelo CERNE aconteceu o painel de debates: Panorama e características dos novos negócios no setor eólico nacional.

No painel, Gabriel Luaces, Jean Philippe Bellavia, Marcos Meireles e Guilherme Sari, executivos do setor de energia renovável tiveram um bate papo e uma troca de experiências bastante rica sobre o presente e o futuro do setor eólico nacional e os principais desafios regulatórios, operacionais e ambientais destes empreendimentos.

Acompanhe os comentários de Guilherme Sari e a íntegra do painel no vídeo: [embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=nFDmR31kpHc&t=218s[/embedyt]

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Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia?

Gestão de Conflitos Socioambientais no Setor Elétrico

A tecnologia evoluiu assustadoramente nos últimos 30 anos e, hoje, temos diversos meios rápidos de nos comunicar com as pessoas, de onde quer que estejamos. De aplicativos de mensagens a chamadas de vídeo, conversar com o outro tornou-se mais fácil do ponto de vista do meio, mas nunca esteve tão difícil do ponto de vista da forma. 

Conversar com quem é do meu grupo, com quem concorda com minhas ideologias e perspectivas é fácil, mas, e quando pensamos de forma diametralmente oposta aos que estão à nossa frente? É aí que se dá a dificuldade de escuta e de conversas. Na maioria das vezes, ficamos entrincheirados, mandando bombas para o outro lado e cantando falsas vitórias para aqueles que nos aplaudem. Todavia, o relacionamento não melhora e o conflito não é resolvido. 

Terreno arriscado, perigoso, cheio de armadilhas, e a gente nunca se sente verdadeiramente preparado para esse processo de conversar, trocar ideias, pontos de vista e opiniões, quer seja na vida pessoal ou empresarial. 

Temos medo. 

Medo, sim, palavra pouco utilizada no jargão profissional, nas empresas, nos negócios, mas, real e presente na vida de todos. 

Comecemos pela escuta 

O território da escuta é um território desconhecido, imprevisível. Em um diálogo pessoal difícil, não tememos aquilo que temos para falar, afinal, conhecemos nossos pensamentos. O que tememos, na verdade, é o que o outro tem a dizer a nosso respeito, sobre nossos comportamentos, ações e pensamentos. Como podemos sair profundamente feridos, muitas vezes, evitamos conversas difíceis, nas quais podemos ouvir coisas que podem nos machucar, verdades que desconhecíamos e outras tantas que fizemos um esforço hercúleo para manter debaixo do tapete da nossa consciência ou dentro do armário corporativo. 

Mas esse medo nos priva do aprendizado, da melhoria e também de possíveis alegrias e satisfações. É por isso que, muitas vezes, não queremos ouvir, queremos só falar, já que, ao falar, falamos daquilo que dominamos, do que conhecemos, das nossas realidades conhecidas e mapeadas, nossos processos certeiros e admiráveis. 

Profissionais de comunicação são treinados para falar, para produzir informações, mas, infelizmente, nas nossas faculdades e universidades não somos capacitados para ouvir. Ouvir é delicado e sutil e exige muito mais do que o silêncio, é preciso o silêncio da alma, já dizia Rubem Alves. 

Nas relações corporativas, as pessoas interessadas podem falar milhares de coisas que são absolutamente diferentes daquilo pelo que as empresas tanto trabalharam e se esforçaram para que fosse pensado delas. As pessoas interessadas podem dizer que os processos e os procedimentos empresariais não são assim tão certeiros e que são pouco admiráveis; que existe uma percepção desproporcional entre a empresa e a comunidade vizinha sobre os riscos ambientais; que as práticas de RH não estão trazendo paz e serenidade e permitindo aos funcionários o pleno desenvolvimento de suas capacidades; que a forma de contratação de fornecedores está provocando impactos financeiros negativos em toda a cadeia e que aquelas políticas lindas de compliance não são uma verdade no dia a dia. Esses são apenas alguns exemplos de coisas desagradáveis que podem ser faladas, mas existem milhares de outras coisas ruins que podem ser ditas sobre as empresas, não é verdade? 

Sem dúvida, ouvir isso machuca qualquer profissional que se empenha e se esforça diariamente, que trabalha para construir uma imagem corporativa positiva, que busca a licença social. O remédio da escuta de pessoas interessadas é, muitas vezes, amargo e difícil de ser administrado, mas é efetivamente o único caminho para se chegar a um outro nível de relação. 

No entanto, perceba que, ao ouvir, você está recebendo um ponto de vista, uma percepção, o que não significa que seja TODA A VERDADE. É a vista a partir de um ponto. Conhecer qual é a vista a partir desse ponto pode auxiliá-lo a ajustar suas ações, a calibrar seu discurso e a atender demandas. 

Ouvir não é concordar. Ouvir é aprender, expandir seu conhecimento, entender realidades sob outros pontos de vista. Ouvir permite conhecer as nossas ignorâncias circundantes. 

Abre parêntesis: 

A-DO-RO este termo: ignorâncias circundantes! Meu Deus! Achamos que sabemos de tudo, mas estamos rodeados de coisas que ignoramos. Que corajosos somos ao navegarmos pela vida achando que só aquele pedacinho de conhecimento que temos – uma jangadinha – será suficiente para atravessarmos um oceano de coisas das quais não sabemos e sequer sabemos que não sabemos! É por isso que muitos pensam que estão a salvo nas suas ignorâncias. Comportamo-nos como crianças que fecham os olhos e acreditam que, assim, os problemas realmente sumiram… 

Precisamos entender que se tudo que sabemos nos levou a uma situação conflituosa ou difícil, a saída só pode estar naquilo que não sabemos. 

E aquilo que não sabemos está no outro, naquilo que ele sabe, mas que nós desconhecemos. Obviamente, precisamos, portanto, descobrir o que o outro sabe, pensa, sente, vê e percebe! 

Fecha parêntesis. 

Ouvir as pessoas interessadas é ir além da conversa educada do dia a dia, do cafezinho e do tapinha nas costas, da simpatia dos encontros fortuitos e ligeiros. É preciso humildade para sair do protagonismo do discurso e ser coadjuvante, permitir que o holofote da atenção e do interesse se desloque para o outro, a fim de que ele, a seu tempo e da sua forma, encontre espaço e segurança para trazer à tona o que está submerso, que é o que ele realmente pensa, sente e necessita. Para entender, evitar e manejar conflitos, a melhor comunicação ainda é a ancestral, olho no olho. 

Ouvir, de verdade, proporciona a construção da confiança mesmo quando há discordâncias, mas é preciso que verdadeiramente possamos oferecer presença, interesse, conexão e tempo. 

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Wind of Change

Podcast – O futuro do setor de energia eólica no Brasil e no Mundo – com Elbia Gannoum, Presidente Executiva da ABEEólica.

Clique aqui para ouvir: https://sptfy.com/6QOc

Elbia Gannoum, Presidente Executiva da ABEEólica.

Presidente executiva da ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica – Vice-Presidente do Conselho de Administração da GWEC. Mãe. Uma voz ativa no debate global sobre diversidade e inclusão econômica no setor de energia.

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