Something In The Way

Medidas de redução e compensação de emissões de gases de efeito estufa, comercialização de créditos nos mercados de carbono, compliance ambiental, critérios de ESG e investimentos sustentáveis tem sido alguns dos temas de destaque nas discussões estratégicas das grandes empresas e nas elaborações regulatórias dos governos nos últimos tempos. 

Atualmente, a análise de riscos e o planejamento das empresas não podem ficar restritos ao acompanhamento das movimentações do mercado nacional, sendo necessário, cada vez mais, ficar atento às exigências de outros países, não apenas no quesito expectativa dos consumidores, mas também no ambiente regulatório, pois as movimentações do mercado internacional certamente impactam as relações comerciais brasileiras e direcionam oportunidades. 

A União Europeia, por exemplo, vem divulgando diversas medidas e proposições legislativas que estão sendo consideradas para que o bloco alcance suas metas de neutralidade de carbono nas próximas décadas. 

A atual estratégia de crescimento europeia – o European Green Deal, trouxe novamente à discussão a criação de um mecanismo que funcionaria como uma ‘barreira de carbono’. 

Com esse mecanismo, conhecido como Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), a pegada de carbono de alguns produtos importados passa a ser considerada e a exportação nos setores abrangidos pela regulamentação vai sofrer grandes alterações. 

Ou seja, as exportações de cimento, alumínio, fertilizantes e produtos siderúrgicos que não considerarem os custos de carbono em sua produção, vão ser fortemente impactados.  

Além desse mecanismo, a Comissão Europeia divulgou uma proposta de regulamentação ligada à importação de commodities e a demonstração de que não venham de áreas desmatadas. 

Aqui, produtos como soja, café, cacau e carne bovina vão precisar comprovar que são “deforestation-free”, ou seja, não são provenientes de áreas desmatadas após dezembro de 2020 e são produzidos em conformidade com as exigências ambientais do país de origem. 

Os detalhes da regulamentação estão sendo discutidos, mas a ideia central é que importadores e comerciantes europeus adotem medidas de due diligence para rastrear a produção, incluindo, por exemplo, requisitar aos fornecedores que apresentem informações sobre a geolocalização, o tempo de produção, o cumprimento de normas ambientais etc. Quem não estiver regular e cometer uma infração, pode sofrer com a imposição de sanções que vão desde multas ao confisco de produtos e à proibição de contratação pública.

As barreiras de carbono já chegaram e é muito importante que sejam regulamentadas de forma a serem compatíveis com as regras existentes do comércio internacional para que o foco realmente seja a proteção ambiental e não uma medida de protecionismo disfarçada. 

Muitos são os desafios que se apresentam para as empresas na preparação para lidar com esses novos mecanismos atrelados à pegada de carbono dos produtos, sendo fundamental estar atento às novas exigências regulatórias do mercado internacional, integrando-as às discussões estratégicas e de desenvolvimento sustentável.

Ouça a música que inspirou este conteúdo.

What A Wonderful World

Debate sobre Direito Ambiental Internacional – Balanço 2021 com Dra. Flavia Rocha Loures, Sócia Milaré Advogados, Prof. Elisa Morgera – Professor of Global Environmental Law, University of Strathclyde Law School, Glasgow (UK) e Dr. Alistair Rieu-Clarke – Professor, Northumbria Law School

Assista a entrevista em: https://youtu.be/Dnge2cTDqRo ou no link abaixo:

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Prof. Elisa Morgera:
Professor of Global Environmental Law and the Director of the UKRI GCRF One Ocean Hub. She is a member of the Strathclyde Centre for Environmental Law and Governance. She specializes in international, European and comparative environmental law, with a particular focus on the interaction between biodiversity law and human rights (particularly those of indigenous peoples and local communities), equity and sustainability in natural resource development, oceans governance, and corporate accountability. Elisa has also researched the environmental dimensions of the external relations of the European Union (EU).

Dr. Alistair Rieu-Clarke:
Research interests lie in the interface between international law, sustainable development and transboundary waters. Alistair’s research has taken him to many of the major transboundary river basins in the world, and he has conducted several major multi-disciplinary research projects in Europe, Southern and Eastern Africa, Central America and South-East Asia.  Since September 2017, Alistair has been working as a legal advisor to one of the UN agencies responsible for the implementation of the SDGs, namely the United Nations Economic Commission for Europe (UNECE). As well as working for UNECE on SDG6.5.2 (transboundary water cooperation), Alistair has assisted in the implementation of the pilot reporting mechanism under the Convention on the Protection and Use of Transboundary Watercourses and International Lakes.

Era um Garoto, que como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones

Todos fomos atingidos, direta ou indiretamente, pela guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia. Seja pelo impacto na economia, nas empresas, nos negócios, seja pelo bombardeio incessante da mídia com notícias do Leste Europeu com imagens desoladoras que ninguém gostaria de ver nunca mais. O mundo ainda continua contando as mortes pela Covid-19 e agora temos que pensar em sobreviver a mais uma ameaça com potencial para chacoalhar o planeta.

Claro que a nossa mente nos leva para guerras anteriores como a do Vietnã contra o todo poderoso Estados Unidos, imortalizada pelos Engenheiros do Havaí na música “Era um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”. E é neste cenário de grandes incertezas que surge um improvável herói mundial: Volodymyr Olexandrovytch Zelebsky, 6º e atual presidente da Ucrânia. 

O ex-ator de 44 anos, formado em Direito e comediante de stand up tem dado um show à frente de uma nação sob intensos ataques. Em um caso em que a vida imita a arte, Zelebsky foi eleito presidente da Ucrânia após protagonizar a série Servo do Povo como um presidente contra o sistema vigente naquele país. Especialistas sequer consideravam Zelebsky em suas projeções e contra todas as probabilidades o ex-ator venceu o pleito, contra o candidato pró-Rússia, com 73,2% dos votos.

Seus posicionamentos, ações e discurso evidenciam predicados de um perfil de líder altamente inspirador para gestores do mundo corporativo. Zelebsky utiliza-se de algumas das principais soft skills (que são as habilidades comportamentais de cada pessoa) recomendadas nas relações humanas, podemos citar ao menos 10 soft skills do ucraniano: comunicação assertiva, resiliência, foco sob pressão, flexibilidade, negociação, adaptação, colaboração, senso de dono, motivação e principalmente a empatia, rainha entre as habilidades para executar um modelo de liderança participativo, inclusivo e diverso.  

Possivelmente, você já deve ter presenciado gestores que assumem uma posição de liderança em meio a crises das mais diversas: institucional, financeira, operacional ou até de reputação e entre os aprendizados de Zelebsky podemos dizer que a permanência dele na Ucrânia foi determinante para ditar os rumos do conflito e certamente escrever seu nome nos livros de História. Enquanto boatos russos diziam que ele tinha dado no pé, Zelebsky fez um vídeo dizendo: 

“Bom dia a todos os ucranianos! Estamos ouvindo muitas informações falsas de que eu teria pedido ao nosso Exército para baixar as armas e se retirar. Escutem: eu estou aqui”. Ele se filmou na Casa com Quimeras, um prédio icônico de Kiev construído no começo do século XX.

Essa é uma lição valiosa porque significa presença, estar junto, permanecer no território (ou empresa), mesmo quando tudo parece estar em ruínas. 

A liderança pelo exemplo também é uma característica que tem marcado a atuação do jovem Zelebsky. Ele despertou a admiração de milhões de pessoas de todas as partes do planeta ao responder a oferta de asilo dos EUA com a frase: não quero carona, quero armas. Que mensagem potente Zelebsky enviou a seu povo, às suas tropas, à Rússia e ao mundo. 

Para finalizar, Zelebsky foi aplaudido em pé por líderes de todo o mundo em seu discurso no Parlamento Europeu ao dizer: “Provem que estão conosco, provem que não vão nos deixar, provem que vocês são de fato europeus e, então, a vida vai vencer a morte e a luz vai vencer a escuridão”. Se o presidente e a nação ucranianos continuarão resistindo só o tempo dirá, mas parece que todos foram tomados pelo espírito de Winston Churchill, um dos maiores estadistas de todos os tempos, ao dizer: “É melhor morrer em combate do que ver ultrajada a nossa nação”.

Márcio Douglas: 
Especialista em comunicação corporativa. Atuou no setor energético em empresas de termoeletricidade e energias renováveis. O seu perfil comunicativo foi aprimorado com experiências prévias no segmento varejistas, tornando-o hábil negociador com alta poder de adaptação à diferentes produtos e mercados, tendo desenvolvido projetos em diversas regiões do país. Essa característica também permitiu múltiplas atuações profissionais com resultados expressivos na comercialização de projetos, gestão de imagem, representação institucional. É um grande motivador de equipes, especialista em clima organizacional, comunicação interna e com vivência em recursos humanos.