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A evolução e importância dos Aspectos ESG nas Due Diligence

Antonio Fonseca dos Santos

Por diversas razões (inclusive a Pandemia de COVID19) estamos vivendo uma era de grande movimentação na economia mundial com muitas atividades e grandes investimentos nos diversos setores do mercado, principalmente quando se fala em aquisição de ativos e de companhia. No mercado de energia esta situação não é diferente com negociações acontecendo por projetos, ativos ou até companhias inteiras. Mais especificamente se forem projetos esta movimentação está acontecendo, não importando o estágio que se encontram os portfólios, podendo estar eles em desenvolvimento (green field) ou construção (brown field). Para os investidores são muitas as oportunidades e elas podem ocorrer de algumas formas básicas, sendo as mais importantes as negociações bilaterais entre empresas, que geralmente são utilizadas quando projetos ou ativos mais específicos são o alvo da aquisição, e os processos competitivos entre um vendedor e diversas empresas que podem fazer proposta para aquisição, esta última sendo mais utilizada normalmente quando um portfólio maior de negócios está em jogo, e um leilão capitaneado por uma instituição financeira é realizado.

Obviamente quando estes processos iniciam, os investidores interessados necessitam ter a certeza de que estarão realizando um investimento seguro e rentável e por este motivo são realizadas as Due Diligence nas diversas áreas do negócio como: área técnica, ambiental, social, contábil, financeira, jurídica, recursos humanos, informática, entre outras. Estas diligências contam com uma análise profunda de toda a documentação sobre o portfólio disponibilizada pela empresa vendedora, e em alguns casos (áreas técnica e ambiental por exemplo) com uma visita de inspeção para conhecimento “in loco” da situação dos ativos em questão.

Como já comentado, o investidor necessita que estas diligências consigam trazer o conforto possível para que o investimento venha a ser seguro e rentável, desta forma o maior objetivo delas é entender e identificar os principais pontos de atenção além de definir os custos necessários para sua resolução, de modo a evitar qualquer problema durante a operação futura que venha a impactar de forma significativa a rentabilidade desejada.

Quando se fala em rentabilidade de ativos de geração de energia, pode muito rapidamente vir à mente questões de preço de energia, custos de operação e manutenção e aspectos técnicos que obviamente são muito escrutinizados em um processo de diligência para aquisição. Muitas vezes, por causa deste pensamento rápido, quiçá quase mecânico, os aspectos ambientais e sociais não são tratados da maneira que deveriam com a atenção necessária, sendo algumas vezes relegados à um segundo plano de importância ou de prioridades, bastando apenas a informação que as licenças ambientais estão válidas e as condicionantes sendo cumpridas, sem um olhar mais atento aos riscos e inclusive às oportunidades que estes projeto podem trazer.

Hoje em dia estamos em uma época que a transição energética é um fator determinante para a sustentabilidade, sendo a questão da descarbonização da matriz de energia um dos aspectos fundamentais quando se trata da crise climática. A mudança de uma sociedade movida à combustíveis fósseis para uma situação em que seja predominante a utilização de energia renovável é um dos pilares desta transição, e as oportunidades de investimentos em renováveis (em desenvolvimento, construção ou operação) tendem a aumentar de forma exponencial.

Mas devemos lembrar que o perfil dos investidores (sejam eles pessoas ou fundos) tem mudado radicalmente, deixando aquela antiga premissa de quanto maior o rendimento melhor o investimento, para uma premissa onde além do rendimento, o legado que este investimento vai deixar para a sociedade é tão importante quanto o ganho financeiro a ser auferido. São os chamados investimentos responsáveis, mais alinhados com valores pessoais e que possam fazer impactos positivos no meio ambiente e na sociedade.

Podemos perceber várias movimentações neste sentido como por exemplo as ações da gestora Black Rock que tem mais de US$ 7 trilhões sob sua gestão e vem realizando diversas medidas para modificar estruturas que comprometem o meio ambiente e a sustentabilidade através de sua influência e poder financeiro como grande acionista em diversos setores da economia.

Para garantir e alavancar os investimentos responsáveis o  Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e o Setor Financeiro Global – UNEPFI e o UN Global Compact lançaram já a algum tempo os Princípios para Investimentos Responsáveis ou UNPRI, para alcançar objetivo financeiro global sustentável incentivando a adoção dos princípios e promovendo a boa governança, integridade e responsabilidade.

De uma forma geral estes investimentos devem entender suas implicações nas questões ambientais, sociais e de governança sendo muito importante a integração deste entendimento na decisão de investimento. Parte da premissa que um sistema financeiro global eficiente e sustentável é uma necessidade para a criação de valor a longo prazo que recompensará investimentos responsáveis que trazem benefícios ao meio ambiente e à sociedade, ou seja, deixam um real e importante legado.

Os três fatores centrais na caracterização de um investimento responsável, ou seja, na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou em um negócio são os aspectos Ambiental (E), Social (S) e de Governança (G) – ESG, que são determinantes para a melhoria do desempenho financeiro futuro das empresas.

Cabe salientar, que apesar de hoje em dia esta sigla ESG estar “na moda”, ela nada mais é que o resultado de uma evolução que ganhou momentum no século passado com a definição do princípio de sustentabilidade conforme Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega colocou em “Nosso Futuro Comum” em 1987: “Sustentabilidade é satisfação de necessidades presentes sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras”, sendo portanto princípio de “longo prazo” que ao ser aplicado precisa ser ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo. A partir daí vieram Agenda 21 e Desenvolvimento Sustentável, Objetivos do Milênio e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS.

Estas constatações por si só demonstram a importância que estes aspectos ESG passam a ter quando da realização de diligências para aquisições de projetos e de empresas, pois estes fatores serão fundamentais para a sobrevivência do negócio por um longo tempo.

O que era antes “relegado” à uma análise de validade de licenças e cumprimento de condicionantes passa a levar em conta diversos aspectos como:

  • Emissão de Gases de Efeito Estufa;
  • Qualidade do Ar;
  • Gestão e Consumo de Energia;
  • Gestão e Consumo de Água;
  • Gestão de Resíduos;
  • Impactos Ecológicos e Proteção de Biodiversidade;
  • Direitos Humanos e Relação com as Comunidades;
  • Práticas Trabalhistas;
  • Diversidade;
  • Saúde e Segurança do Trabalho;
  • Gestão de Cadeia de Fornecimento;
  • Impactos do Negócio nas Mudanças Climáticas;
  • Análise de Riscos Sociais e Ambientais;
  • Gestão de Riscos;
  • Resiliência do Negócio às Mudanças Climáticas; e
  • Ética nos Negócios.

Não pode se deixar de comentar que uma análise destes aspectos de forma mais profunda pode trazer à tona oportunidades de investimentos em ações ESG, que venham a alavancar o desempenho de companhias e fundos de investimentos, atraindo os investidores “responsáveis” e trazendo uma garantia de menores riscos e maior rentabilidade garantindo uma verdadeira sustentabilidade

Obviamente cada tipo de negócio tem suas materialidades específicas, mas todos eles devem sempre levar em consideração os aspectos de sustentabilidade para própria sobrevivência.

Uma Due Diligence que consiga integrar os aspectos ESG com todos os demais aspectos técnicos e financeiros de forma estratégica, de modo que eles também façam parte importante na decisão final do investimento, pode garantir ao investidor além da rentabilidade desejada a certeza de que, agindo desta forma com a mitigação de riscos sociais e ambientais (e obviamente riscos reputacionais) estará, através de um investimento responsável deixando um legado importante, contribuindo para a sustentabilidade e sobrevivência da sociedade como também do próprio negócio.

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Antonio Fonseca dos Santos

Antonio Fonseca dos Santos

Conselheiro do Fórum de Meio Ambiente, FMASE

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