Metamorfose Ambulante

A revolução do Hidrogênio Verde

Guilherme Batista

Hidrogênio Verde

“Novo combustível movimenta o mercado estrangeiro para suprir a demanda climática atual e o Brasil poderá se situar como protagonista nesta nova trajetória.”

A vida é uma “metamorfose ambulante”, como diria Raul Seixas. Desde as evoluções naturais darwinianas às históricas rupturas políticas ao longo dos séculos, a história da vida na terra é o reflexo da tendência constante de transformação na qual pessoas e seres vivos estão inevitavelmente sujeitos. Assim como nosso planeta, estamos incessantemente em movimento. 

À luz da concepção introduzida, vem à tona a próxima imprescindível – e necessária- evolução da matriz energética mundial: o hidrogênio verde. 

Os frutos desta produção possuem benefícios extraordinários a qualquer meio de transporte ou maquinário que roda, atualmente, à base de combustível fóssil. Grosso modo, o gás é obtido através da quebra da molécula da água por uma corrente elétrica, processo denominado de “eletrólise”. Caso essa corrente elétrica tenha origem renovável, obtém-se o hidrogênio verde. 

COMO ESTÁ ATUANDO O MERCADO GLOBAL

Chamado pela revista Forbes de “energia do futuro”, diversos países e empresas têm tomado iniciativas em projetos ambiciosos visando o futuro protagonismo no mercado. 

A Siemens Energy, em parceria com a Porsche, e várias empresas internacionais, irão aproveitar o potencial eólico de Magallanes, região sul do país, para produzir Hidrogênio Verde já no ano que vem, a fim de virarem grande exportadores de combustível sintético ao redor do globo. O produto poderá abastecer carros, caminhões, navios e aviões de grande porte, sem que precise adaptar as frotas para um novo modelo de combustível. A técnica utilizada baseia-se em combinar dióxido de carbono com o Hidrogênio, resultando em metanol sintético, sendo este a base para o e-diesel, e-gasolina ou e-querosene, configurando os chamados “combustíveis neutros”, em que a combustão emite 90% menos dióxido de carbono na atmosfera.

A Coreia do Sul, fazendo jus à sua fama de assertiva e intensa investidora em sua economia com verbas públicas, direcionou 130,4 bilhões de wons em incentivos para veículos à base de hidrogênio, segundo a Korea Herald. Indo além, a gigante nacional do meio automobilístico Hyundai, em parceria com o Grupo SK e outros, desembolsaram US $31 bilhões para alcançar uma economia de hidrogênio nos próximos dez anos. 

A União Europeia (EU) também já se planejou, almejando cumprir a meta de emissão neutra até 2050 e estabeleceu um plano de investimento de US $430 bilhões em hidrogênio verde até 2030. 

E COMO ESTÁ O BRASIL?

Temos a grande chance de nos tornarmos líderes na produção deste novo combustível graças à iniciativa de empresas como a australiana Enegix Energy, que investirá 29 bilhões de reais, na cotação atual, para construir a maior usina de hidrogênio verde do mundo no Brasil. Isso mesmo, o Ceará sediará o projeto Base One, com capacidade para produzir 600 mil toneladas de hidrogênio verde por ano a partir de 3,4 GW de potência firme. Em parceria com o governador do Ceará, a usina se encontrará numa zona industrial de 500 hectares que foi reservada no Porto de Pécem, com posição estratégica de acesso direto aos maiores portos internacionais. 

“O Base One transformará o Ceará em um importante exportador de hidrogênio e estabelecerá a Enegix como produtora global de energia renovável alinhada à nossa visão e estratégia para substituir redes de energia caras e de alta emissão por redes renováveis”, comenta Wesley Cooke, Fundador e CEO da Enegix Energy.

A região onde será instalada também é climaticamente estratégica, à medida que o Porto de Pecém detém vasto potencial solar e eólico offshore até onshore – instalado em alto-mar e na costa, respectivamente – praticamente o ano todo. As proporções continentais do Brasil são incríveis justamente por conter regiões propícias para obter intensa e constante luz solar, ainda mais no Nordeste, que se situa mais próximo da Linha do Equador, onde os raios solares atingem o solo mais próximo dos 90º graus por quase todo o ano, gerando grandes margens para aproveitamento do mercado de energia solar. 

Projetos como este geram grandes impactos positivos à nossa atmosfera. Nos dias atuais, as atividades humanas emitem nada menos do que 50 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Só o Base One será capaz de reduzir 10 milhões de toneladas de CO2 emitidos na atmosfera anualmente, assumindo o posto de maior projeto de redução de carbono do mundo. “Uma economia de hidrogênio é possível agora, devemos tomar a iniciativa e construí-la para que todos possam se beneficiar do elemento mais abundante do universo” defende Cooke. 

Por fim, é positivo ver empresas internacionais investindo em grandes projetos sustentáveis no país, como o Base One. Assim, da mesma maneira que o petróleo virou uma alternativa ao uso de gordura de baleia, chegou a vez do petróleo passar o bastão para o hidrogênio e se tornar uma engrenagem importante ao cenário climático pelas próximas décadas.

Como se produz Hidrogênio Verde e seus benefícios

Como já escrito em artigo anterior, o Hidrogênio Verde passa a ser alternativa viável ao uso de combustíveis fósseis ao mercado automobilístico e industrial. Pela urgente demanda climática atual, o novo combustível gera grande agitação aos olhos do mercado que cada vez mais realiza ações em prol de seu desenvolvimento. 

Mas, afinal de contas, como seu produz Hidrogênio Verde? E quais seus reais benefícios a ponto de encantar os líderes mundiais?

COMO SE PRODUZ

Fruto do processo denominado “eletrólise”, o gás Hidrogênio (H) é obtido através da decomposição química da água em: hidrogênio e oxigênio. Grosso modo, a reação química ocorre quando uma corrente elétrica atravessa a água, separando o gás desejado. Assim, caso a corrente elétrica utilizada no processo tenha origem renovável – eólica ou solar, por exemplo- produz-se o chamado “Hidrogênio Verde”. Vale ressaltar que todo o processo produtivo ocorre sem emissão de poluentes. Entretanto, é necessária uma grande quantidade de energia. 

BENEFÍCIOS

O combustível se apresenta como uma alternativa salvadora, à luz de que 25% das emissões de gases do efeito estufa vem do setor dos transportes, segundo o relatório apresentado na COP-24, na Polônia. “Uma redução substancial nas emissões de CO2 é quase impossível sem hidrogênio”, defende incisivamente Christian Bauer, do Instituto Paul Scherrer, centro suíço de pesquisa em engenharia, “Eu diria que, dentro dos próximos dez anos, veremos avanços importantes no setor”, continua. 

Os frutos desta produção possuem benefícios extraordinários a qualquer meio de transporte ou maquinário que roda, atualmente, à base de combustível fóssil. 

Os motores podem ser movidos à hidrogênio em si. Para gerar energia, o veículo é equipado com uma célula de combustível. Nesta célula ocorre o processo inverso ao da eletrólise, havendo a reação do Hidrogênio com o Oxigênio, gerando água e calor, capaz de impulsionar o motor ao converter energia química em mecânica. Ora, o que, afinal de contas, é emitido após essa combustão? Isso mesmo, caro leitor: água. Logo, os veículos movidos por hidrogênio emitem vapor d’água, como grandes umidificadores ambulantes. “Queridinho” dos fabricantes, o motor é, tecnicamente, chamado de “FCEV” (veículo elétrico a célula a combustível), e já encontra exemplares no mercado mundial como: frotas de empilhadeiras nos Estados Unidos e na União Europeia, assim como foguetes espaciais. 

As vantagens continuam, tendo em vista que o hidrogênio tem três vezes mais energia do que a gasolina e, pelas palavras do pesquisador Mr. Ian Stalffe et all, do Imperial College London e da Royal Society of Chemistry:

“Uma das qualidades do hidrogênio é a sua densidade energética específica muito alta, 40.000 wh / kg, ou 236 vezes a energia específica das baterias de íons de lítio. Isso significa que os veículos movidos a hidrogênio são mais leves que os movidos a bateria e têm um alcance mais extenso. Além disso, o reabastecimento de hidrogênio leva apenas alguns minutos em comparação com várias horas para carros movidos a bateria.”

Outra possível utilização é a produção de combustível sintético. Esta técnica baseia-se em combinar dióxido de carbono com o Hidrogênio Verde, resultando em metanol sintético, sendo este a base para o e-diesel, e-gasolina ou e-queresene, configurando os chamados “combustíveis neutros”, em que a combustão emite 90% menos dióxido de carbono na atmosfera. Tecnologia, esta, que será utilizada em grande escala por um ambicioso projeto no sul do Chile, que visa produzir 550 milhões toneladas deste e-combustível até 2026. A Siemens Energy, em parceria com a Porsche e várias empresas internacionais, irão aproveitar o potencial eólico de Magallanes, região sul do país, para produzirem hidrogênio verde já no ano que vem, a fim de virarem grande exportadores de combustível sintético ao redor do globo. 

As concentrações de CO2 na terra são preocupantes. No mês de maio de 2019, o observatório de Mauna Loa, uma das mais renomadas estações de monitoramento do aquecimento global, no Havaí, registrou uma concentração de 415 parte por milhão (ppm), marca inédita na vivência humana na terra. “Isso é significativo porque a última vez que a Terra teve concentrações atmosféricas de CO2 nesse nível foi provavelmente há 2,6 milhões ou até 3 milhões de anos. Ou seja, antes da evolução da espécie humana”, alega James Dyke, professor de Sistemas Globais do Departamento de Geografia da Universidade de Exeter, no Reino Unido. 

Em suma, a evolução humana na terra está estritamente ligada ao progresso das nossas tecnologias. E, cada década que passa, descobrimos novas e melhores maneiras de produzir, pensar e redirecionar a vida neste planeta através das excelentes cabeças pensantes. 

Neste cenário, é fundamental a ativa atuação dos centros acadêmicos na produção de conhecimento. Brasil vive atualmente uma intensa fuga de cérebros de cientistas renomados, que fogem da falta de investimento e de constantes ataques às áreas pelo governo federal. À título de compreensão, o Ministério de Tecnologia e Inovações (MCTI) teve uma perda de 52% em seu orçamento entre 2013 e 2020, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).” 

Logo, iniciativas como as da Engix Energy, e de tantas outras, refletem a nova guinada universal rumo ao aprimoramento da relação homem-natureza. 

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Guilherme Batista

Guilherme Batista

Guilherme S. B. Batista. Estudante de Direito da PUC-SP, aos 21 anos, nascido em São Paulo, atualmente trabalho na Trennepohl Advogados, escritório especializado em Direito Ambiental. Formação Acadêmica: Curso: Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ano de ingresso: agosto/2019. Ano de término: junho/2024. Experiência Profissional: Estagiário Ambiental na Trennepohl Advogados. Extracurriculares: Ex-participante do Laboratório de Pesquisa PUC-SP em: Comportamento Político Practitioner SBPNL (Programação neurolinguística)

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